18 de fevereiro de 2011

O sobrevoo do Aeroplano

Foto: João Lemos


Por @Nicobates*


Sabe aquelas melodias de indie rock que você supõe não ser possíveis cantar em português? Pois é, o vocalista Eric Alvarenga conseguiu essa proeza no novo disco do Aeroplano. Se você ouve rock inglês pode até estranhar as letras e achar que elas não são tão sofisticadas, mas quando se acostumar com a sonoridade vai descobrir que está diante de um dos melhores discos de rock já produzidos por uma banda paraense, sem dever nada a Suzana Flag, Ataque Fantasma Johny Rockstar ou Eletrola, e indo um pouco além em termos de produção musical.

Se você não for um jornalista medido a besta que acha que saca tudo de música sem nunca ter feito um hit na sua vida, vai acabar entendendo que uma coisa não existe sem a outra: arranjo, melodia, ritmo, timbres, pausas, sotaque, tudo combina algo novo que por mais que você ache “derivativo” não será igual às suas matrizes. É assim com Voyage (Doutromundo Discos 2011).

O primeiro disco oficial do Aeroplano, depois de seis anos, duas demos e um mudança estrutural não pode ser reduzido a esse termo. A qualidade e o bom gosto sensorial presente no disco somam-se às performances competentes de seus integrantes para um resultado mais do que bom, eu diria excelente.

É um disco que qualquer roqueiro de uma cidade provinciana no meio da Amazônia, no século 21, gostaria de produzir. Traz um preciosismo admirável, crédito do produtor goiano Gustavo Vasquez, que gravou o disco em seu Rocklab, na cidade de Fabrício Nobre, durante 19 dias em que banda e produtor ficaram imersos no trabalho.

Mas isso aqui não é uma resenha, é só um recado para os chatos e a introdução de uma entrevista com o guitarrista Diego Fadul, um dos articuladores da banda. Diego está super feliz pelo que vai acontecer em breve. Começa no próximo domingo, 20, com a estréia no LABbr (10h30) da MTV do clipe de “Estou bem mesmo sem você”, dirigido e editado por Bernie Walbenny.

Gravado num dia chuvoso em uma propriedade qualquer da Alça Viária, vale a pena conferir o making of da gravação. VEJA aqui.

O evento de lançamento será no projeto Finais de Tarde, às 19 horas no dia 25 de fevereiro, sexta, iniciativa do Coletivo Megafônica. O disco estará disponível na Saraiva MegaStore e em seu site. E como comemorar nunca é demais, a partir das 22 horas a festa continua na Se Rasgum Clássica, uma das festas mais tradicionais de Belém. Na Saraiva vai ser com violões, no Se Rasgum vai ser valendo, com guitarras em riste.

Para você ficar com vontade de ir lá e conferir (porque vale a pena) fique com a conversa franca que tive com o Diego ontem pelo MSN. Um papo muito interessante em que ele fala sobre a produção do disco, sobre os planos da banda, parcerias, coletivos e demais agremiações.

Nicobates: Quando saiu o primeiro disco do Aeroplano?
Diego: Voyage é o nosso primeiro disco oficial, na verdade. Os outros dois foram só EPs. Apesar do primeiro (“Aeroplano”) ter cinco músicas e o segundo (“Solidão, Pra você”) tinha onze, mas foi gravado de um jeito muito ruim, corrido. Então Voyage é nosso primeiro disco, até porque estabelece um novo aspecto da banda, bem diferente do que era nos outros registros.
E o Voyage é um passo bem mais largo do que só dar um disco. Nossa pretensão é alcançar definitivamente o resto do país. Tanto que o primeiro clipe já vai rolar agora, dia 20 de Fevereiro, na MTV Brasil, e nos outros canais também ao longo dos dias, a distribuição será nacional em parceria com vários núcleos de produção cultural.

Fala sobre a proposta estética e sobre a mudança do som da banda. Que influências você citaria para o disco?
Bom, quando fomos pra Goiânia gravar no Rocklab, do nosso parceiríssimo Gustavo Vazquez, fomos com o disco fechado em termos de repertório e arranjo. Mas chegando lá ele modificou principalmente o conceito. Na verdade, ele nos questionou, durante o trabalho, sobre um conceito para o disco, que acabou se perfazendo por si só. Acho que foi o lance da viagem, de estarmos longe dos amigos, da cidade e tudo mais, além de as músicas falarem de solidão, abandono, mudanças de rumo... desapego.
Enfim. Daí que somou tudo ao lance do Gustavo propor darmos uma cara mais Lo Fi
ao disco, porque combinaria com as músicas e tudo mais, o que ele chamou de 'pop doidão', com bastante propriedade até, hehe.
As influências foram Cat Power, Dirty Projectors, o último disco do Arctic Monkeys, Porcupine Tree, Radiohead, Wilco. E, apesar de nem falarmos sobre o 'There's no enemy' do Built to Spill, eu acho discos muito parecidos, em termos de produção.

Diego Fadul no detalhe da foto principal

Então o papel do Gustavo foi decisivo pra sonoridade desse disco? Sem essa interferência como você acha que o disco soaria hoje?
Diego: Sem a interferência do Gustavo, o disco sairia imaturo e bastante incoerente. Talvez não, mas acredito muito que sim. É um excelente profissional e ter convivido com ele nos 19 dias que passamos em Goiânia foi uma aula e tanto de produção, musicalidade, de como não ser um babaca, além de todas as histórias dos bastidores do Rock e de uma cena muito intensa que é a goiana. Além do Gustavo, tivemos ajuda do Luís Maldonale, que também trabalha no Rocklab, guitarrista excepcional, um dos caras mais gente boa que já conhecemos - na vida até, eu acho.

Quanto tempo tem a banda, qual a idade media dos integrantes hoje?
Vamos fazer seis anos em maio agora! Felipe (Dantas, baterista) e Eric (Alvarenga, guitarrista/vocalista) têm 26, Bruno (Almeida, baixista) tem 28, eu tenho 27.

Com seis anos de banda e todo mundo antes dos 30 vocês querem ganhar o Brasil com a distribuição desse disco, clipe na MTV... o plano ainda é viver de rock?
Não tem como. Graças a Deus todos nós temos empregos fixos, tirando o Eric que está no mestrado. Temos família e gostamos demais da idéia de levar a gatinha pra passear, viajar, ter filhos, essas coisas. O formato de o artista viver mudou demais. Eu não sei de muitas coisas, mas acho que não se encaixa no nosso perfil ser uma banda de sucesso. Ou pelo menos nesse tipo de sucesso padrão. Não tem mais espaço pra isso. Hoje pra circular a gente tem que abrir mão de muita coisa, coisas pessoais, de família. Mas não é algo estático, esta opinião.

Nessa nova realidade muitas opções tem aparecido para gerir o negócio ou a simples vontade de tocar... coletivos, associações como a Pro Rock, teorias de economia solidária etc. Isso provocou durante muito tempo desconfiança e intrigas mas agora parece que começam a clarear as coisas...pra vocês também?
Sim. A gente é meio conhecido por não fazer parte de nada. Parece muito antipatia, mas creia que é mais timidez do que outra coisa. Além disso, toda aquela nuvem de confusões de que a gente sempre ouve falar ou vê nas listas, isso tudo atrapalha demais a vontade de participar. Parece que tudo vai caminhar de um modo muito mais brando e calcado no diálogo daqui pra frente, então, até pelo momento em que vivemos, que precisamos fazer a nossa correria, evidentemente, é o momento de nos aproximarmos.
Claro que a gente também gosta demais de dialogar musicalmente com outros músicos e contribuir com o que pudermos pra cena. Sempre fizemos muita coisa aqui em Belém que vai além da nossa banda, seja emprestando equipamento, apoiando várias situações, enfim. Gostamos de atuar.

Inclusive vocês gravaram duas faixas com a cantora Iva Rothe. Como foi isso?
O produtor do disco da Iva Rothe, Beto Fares, queria formatar duas músicas dela – “Dois Peixes e Canção pra Você” – de um modo mais moderno, mas cosmopolita e popular. Chamou a gente, passou as músicas, ensaiamos com ela. Chegamos a fazer versões muito diferentes das originais, eles vetaram, hehe, mas o resultado que ficou no disco dela, Aparecida, ficou muito melhor, realmente. Iva é um amor de pessoa, musicista de mão cheia e uma grande parceira. Até estamos ensaiando "Dois Peixes" pra tocarmos nos nossos shows, como estamos fazendo com "Belo dia pra morrer", do Delinquentes.

Aeroplano sobrevoando o palco do Se Rasgum


A saideira: Onde foi filmado o video clipe?
Invadimos um terreno lá na estrada da Alça Viária num dia muito chuvoso. Quase miou tudo, mas deu certo no fim das contas. Culpa do Bernie Walbenny (Doutromundo Discos),que é quem trabalha conosco a produção executiva do disco, que meteu corda na gente pra gravar e fez o corre todo. Além dele, Erik Lopes, Camillo Royale e Francisco Fadul ajudaram demais na produção.

Making Of

Conheça mais do Aeroplano no twitter @aeroplanorock
E visite myspace.com/aeroplanobr.


*Nicobates é jornalista e guitarrista da banda Norman Bates

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