7 de abril de 2011

Devoção musical



Eu conheci Camila Barbalho em 2009, numa sala de aula na Unama, quando ministrei oficina de Jornalismo Cultural na Semana de Comunicação. Entre um papo e outro sobre os demônios pessoais de Herman Hesse, descobri que ela tocava numa banda de rock. Depois de vê-la tocando, endossei a ideia de Joel Melo e João Ricardo de chamá-la pra assumir o baixo do Suzana Flag. Sua agenda com a banda B3 não permitiu que ela assumisse o posto definitivamente, mas cada encontro musical da banda com ela era celebrado como um acontecimento digno.
Aos 22 anos recém completados, Camila é um prodígio. Uma jóia sendo lapidada diante dos nossos olhos. Outro dia, a minha surpresa foi quando ao ligar o rádio do carro ouvi uma voz descontraída e extremamente eficiente em sua comunicação. Era ela, apresentando o DDO - Discagem Direta do Ouvinte - da Rádio Unama FM.
Considero um dos papéis fundamentais do jornalismo cultural, revelar talentos, mostrar e ajudar na lapidação desse talento, incentivando-o, seja através do destaque ou da crítica responsável. Não há o que criticar na ainda curta, mas já impressionante, trajetória de Camila. Ainda haverá muito o que dizer sobre ela. Por enquanto, uma parte dessa trajetória é revelada nesta entrevista, concedida anteontem pelo MSN. Apreciem.


Nicobates: Você já se formou?

Camila: Concluí jornalismo no fim de 2009, agora estou cursando direito. Todo mundo se assusta quando eu digo essa parte, mas não vou virar doutora não, é só pra servir de base pro mestrado que eu tô prevendo depois =P

E em que área será esse mestrado?

Pois é, a princípio, ciência política. Mas pode ser que eu acabe caminhando pro lado da propriedade intelectual, pra ficar mais perto da música e das palavras. Bora ver.

Vamos falar sobre música, e a B3? Foi tua primeira banda? Quanto tempo tem?

Foi minha primeira banda, sim. O B3 tem 7 anos, completa 8 em julho . Eu tinha 14 anos quando a gente montou.

E como foi a tua educação musical? Você vem de família de músicos?

Não. Meus pais sempre ouviram muita música, e cada um com sua cara. O papai é um cara de MPB de bar mesmo, voz e violão; a mamãe curtia rock progressivo. E eu comecei a ouvir música com eles, deles acabei herdando as primeiras influências. Mas embora na família não haja músicos, sempre teve gente próxima que tocava na noite. Cresci vendo e ouvindo música ao vivo em barzinho, na casa dos primos dos meus pais, essas coisas... E comecei a estudar música muito pequena também, daí fui me cercando de todo tipo de som. E com o tempo, a gente vai filtrando o que mais interessa para o próprio ouvido, né?

Você estudou musica onde?

Estudei em conservatório quando era criança. Comecei com cinco anos. Fiz (Conservatório) Carlos Gomes e tudo. Estudei piano até os 14, e parei mais ou menos na época que o B3 começou.


Você sempre tocou com o B3, ou você já teve outra banda ou alguma experiência solo em sua carreira?


Sempre toquei com o B3, desde essa época. Foi a banda que eu ajudei a idealizar, né? É engraçado como o meu processo de crescimento está muito ligado ao da banda. Toda a transformação profissional que eu passei dentro da música foi sentida pelo B3 também. As coisas que eu fiz por fora foram por puro acaso. Em tempos de colégio acontecia de aqui e ali alguém dizer "ah, a Camila toca, chama ela pra fazer com a gente no festival" ou algo do tipo. Mas nem por isso foram menos divertidas. Agora, profissional mesmo, de dar a cara pra bater, enfrentar o julgamento, encarar plateia, virar noite pra coisa ficar legal, foi com o B3 mesmo.


A B3 é uma banda da noite, mas tem um trabalho autoral também né? Fala um pouco sobre isso.


É. No início, a gente começou metendo a cara nas duas coisas ao mesmo tempo. Sentava junto mesmo pra pensar em arranjo, discutir isso e aquilo, e engraçado que nós nunca precisamos pensar pra escolher um caminho ou algo do tipo. Normalmente, as bandas covers passam um tempão na noite, depois se cansam, gravam alguma coisa, soltam na rádio e esquecem dela lá. Eu não sei se pelo fato de a gente sempre ter um gosto particular pela criatividade, mesmo na hora de tocar os hits, a ideia nunca foi gravar alguma coisa pra ficar perdida por aí. Eu particularmente não sou uma compositora que faz uma música nova por semana. Eu me apego, crio um respeito pelas coisas que eu escrevo, e pelas coisas que o B3 monta junto. E sempre foi assim. A gente nunca parou de compor ou de pensar no nosso trabalho autoral em nome do cover ou o contrário. Aqui e ali, o B3 põe a cara num festival, numa mostra, e acaba conseguindo bons resultados.

Vocês já tem material para um disco? Quais os planos nesse sentido?

Pois é, os planos tem ficado mais intensos e mais concretos nesse sentido. A gente tem músicas que nos acompanham desde o surgimento da banda e coisas que foram surgindo de uns tempos pra cá, então estamos na fase de dar uma unidade. A gente quer assinar um trabalho que diga quem a gente é, o que a gente pensa. Por isso, a gente nunca se apressou, mas parece que agora vai.

Então esse é o momento...

Pois é, existe esse apego com as músicas que a gente faz, e que fazem parte da nossa história. Elas tem o tempo delas de maturação. Eu não sei se tu tens essa sensação, mas tem música que se apronta sozinha. Ela precisa do momento dela pra fazer sentido. E eu acho que a gente tá chegando nesse momento, em que as coisas estão fazendo sentido, e a gente tem mais consciência de quem é e do que acredita musicalmente.

É verdade. Tenho essa sensação também. Sempre compus com o Norman Bates coletivamente, de uns tempos pra cá que tenho composto sozinho. E demorei algum tempo pra entender as minhas próprias canções. É uma simbiose, uma troca entre você e as canções...

Exatamente. Compor te ensina muita coisa. E logo depois que eu termino uma música, fica aquela sensação de parto. Eu preciso de um tempo pra curtir ela, pra alimentar e me alimentar dela, antes de passar pra outra. Talvez por isso exista um espaço grande entre uma composição e outra.



Mas, musicalmente falando, tem outra coisa também. Você tem tocado com o Suzana Flag, gravou com a Aíla Magalhães, essas experiências provocaram o que em você?

Foram experiências lindas, de verdade. Tem sido ainda. Foi uma surpresa atrás da outra. Primeiro rolou o convite pra tocar com o Felipe, a Aíla e a Nanna Reis lá na federal; e no mesmo período o convite pra fazer com o Suzana. Eu sempre me considerei mais cantora que baixista, então eu não esperava ser convidada pra acompanhar como instrumentista músicos que eu sempre admirei. E uma coisa foi puxando a outra muito rápido. Do show na UFPA, vieram os convites pra tocar com a Aíla e o Felipe no Festival da RBA, depois no show Trelelê, e depois a gravação. Com o Suzana foi a mesma coisa. Quando vi, eu já tava com eles em Castanhal, na Feira do Livro e em um monte de oportunidades grandes. Além de ter sido um presente pro meu aprendizado musical tocar coisas diferentes, adquirir novas sonoridades e tudo o mais, eu conheci muita gente especial, fui ganhando espaço e consideração de pessoas fantásticas, fiz bons contatos. E o mais bonito de tudo, ganhei amigos brilhantes, como o Joel, a Su e o Ramones, a Aíla, o Felipe, os meninos da banda.

Como você vê o teu futuro, entre o jornalismo, a música e agora o direito?

Eu me pergunto isso diariamente. Eu temo o afunilamento, temo o instante em que as coisas começarem a cobrar de mim uma atenção superior a que eu posso dar. Mas até agora, eu tenho conseguido fazer mitoses pra me adaptar. E tem coisas das quais a gente simplesmente não se desliga. A música vai comigo pra onde eu for. Sempre vai ser mais que uma prioridade, sempre vai beirar a devoção. O jornalismo foi uma das decisões mais acertadas que eu já tomei. Eu acredito no poder da informação, acredito que é possível fomentar o debate através do conhecimento, acredito na mobilização social. E a gente também não se desliga do que acredita, né? No direito, eu ainda tô me descobrindo. É um conhecimento que eu sempre quis ter, e que tá me cativando aos poucos, mas não sei se seguiria uma carreira jurídica. No geral, eu me vejo lá na frente ainda me dividindo. Acho que vou ser jornalista de dia, cantora e baixista em tempo integral. Vai saber, né? No fim das contas, acho que eu só escolhi carreiras que me proporcionem o sentimento de que é possível fazer alguma coisa especial a partir delas. E vou levar todas comigo =P

Por @Nicobates
Fotos: Camila no lançamento do disco Souvenir da @bandasuzanaflag (Ana Flor); No Estúdio com Aila Magalhães (Nicobates) e No palco com Joel Melo, da Suzana Flag (Ana Flor)

9 comentários:

  1. Obrigada pelo carinho, espaço e respeito, Nicolau. A admiração é mútua, pode ter certeza. Vida longa ao ProRock!

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  2. Não sabia que a Camila já tinha conquistado tantos pontos importantes na carreira musical. O que me chamou a atenção nela é o carinho e respeito com que trata as pessoas. Vida longa ao talento dessa menina linda!!

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  3. Parabéns pelo seu talento e dedicação, Camila! Pode contar conosco. Beijão.

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  4. Totalmente..com e pelas boas mentes..Ela é assim..simplesmente linda de ser ver, ouvir e admirar. Te amo muito amiga de todo o sempre...Bjs Macios do Storni Jr..

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  5. A minha baixista é fodaaaaaaaaaaa \o/\o/ :P Sou fã!!

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  6. Interessante ver as pessoas descobrindo o que eu sempre soube. Vida longa a quem te quer bem, Camila, o que pelo visto são muitas.
    Ótima entrevista. =)

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  7. Phoda! tanto o jornalista quando a personagem.
    Só p lembrar... eu estava nessa oficina de jorn cultural na unama. Troquei ideia c os dois. Qr dizer.... mais escutei do q falei.


    p finalizer.... QUANDO CRESCER QUERO SER IGUAL A CAMILA!


    Djanara

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  8. Ela é muito boa mesmo em tudo que ela faz, ela faz música direito, faz jornalismo direito, toca baixo direito, canta direito e além disso ainda faz direito em fim são muitas qualidades. viva a nossa baixistona.

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