4 de maio de 2011

"Nós não nos arrependemos das rupturas"

Existe uma gravação, uma pré-master, de “Respira”, música do segundo e ainda inédito disco da banda paraense Madame Saatan que circula apenas entre alguns poucos iluminados em Belém, produtores, músicos e amigos da banda. Quem já ouviu, diz que se trata de um Madame renovado, mais pesado, algo como um riff do Pantera, mais conciso e direto como um soco na boca do estomago; com letras mais enxutas e mais atitude metal, sem deixar de ser, claro, o Madame Saatan. A produção caprichada e tudo o que repercutiu desde que a banda saiu de Belém, há três anos, avisa que ela deve ser alçada definitivamente a uma nova condição no cenário brasileiro.

A entrevista que vocês vão ler em seguida, em que Sammliz faz uma avaliação desses três anos e revela coisas preciosas sobre a produção e divulgação do novo disco, não foi algo fácil e por isso é celebrada com o mérito devido. Por isso é bom ressaltar os créditos da jornalista Djanara Introvini, nossa colaboradora, que escreveu uma elogiada monografia sobre o rock paraense e conseguiu, com um relato muito apropriado do que é o cenário rock do Pará atualmente, conquistar a confiança de celebridades como Sammliz, que, apesar da grande amizade e apreço que tem pela gente, não pode mais se expor de qualquer forma, ainda mais no meio da correria de tanta produção.

Sammliz e Ícaro Suzuki, baixista da banda, foram duas das pessoas mais atuantes na formação da Pro Rock, como ela mesmo conta na entrevista. Ícaro inclusive foi o primeiro presidente da Associação. Essa condição nos favorece e nos dá a medida de quanto são artistas comprometidos com algo, além da música, como os interesses da sociedade civil organizada. São coisas que elevam um principiante, um mero animador de platéias à condição de artista. Condição esta que, diante de tanta falta de decoro e de tanto descaso por parte de homens públicos que não artistas, também deve ser mais do que nunca celebrada.

Com tantos motivos para celebrar a música e o rock paraenses, estamos orgulhosos em disponibilizar a quase íntegra da entrevista de Sammliz concedida à jornalista Djanara Introvini. Isto, sim, rockers, é algo histórico. Apreciem.


Agora em 2011 completou três anos que a banda foi para SP. O que vocês foram fazer ai?

A primeira vez que a banda esteve em SP foi para participar do projeto Supernovas no CCBB e para gravar participação em um programa da MTV. Algum tempo depois, no início de 2008, resolvemos passar inicialmente uns três meses pra divulgar nosso primeiro disco (2007), mas as coisas foram acontecendo principalmente depois que fechamos parceria com uma grande empresa importadora de instrumentos (Equipo) que nos ofereceu contratos como endorses de algumas marcas e ainda investiu em nossa tour que passou por vários Estados. Vimos essa sucessão de coisas boas acontecendo como um sinal para ficarmos e assim foi.

Foto: Fernanda Brito

Como foram as primeiras semanas?

A parte da nossa acomodação foi um tanto estressante. Não havia uma estrutura nos esperando e tivemos que nos espremer na sala do Antônio Novaes (ex-Euterpia), nosso amigo, por uns 10 dias até conseguirmos uma casa pra alugar. Aí, você imagina a burocracia pra conseguir alugar imóvel, conseguir fiador, cheque caução, etc. Foi um perrengue, mas como a sorte sempre parece conspirar a favor de malucos obstinados, tudo foi se encaixando. De qualquer forma, a presença de alguns anjos em forma de amigos foi fundamental para tornar nossa transição menos dolorosa.

Como foi a receptividade da galera? Eles realmente querem o bom rock, ou rola preconceito por ser do Norte?

A recepção aqui sempre foi boa e calorosa. Passamos por boates do circuito da rua Augusta, Sesc Pompéia, Sesi Vila Leopoldina, Centro Cultural Banco do Brasil etc. Independente do público que era atraído a esses locais sempre fomos bem recebidos. Muita gente havia nos dito que o público paulistano seria meio blasé e um tanto difícil, mas, sinceramente, nunca nos receberam assim. O fato de sermos do Norte do Brasil sempre despertou curiosidade e isso até hoje ainda é assim. Normalmente, quando falamos que somos de Belém, é comum falarem “da terra do Calypso?” e sim, dizemos que sim, mas que também somos da terra do carimbó, guitarrada, tecnobrega e é claro, do rock. Aí eu sempre conto a história que a primeira banda de heavy metal brasileira saiu do Pará só pra humilhar. :)

Vocês estão morando todos juntos? Na casa de alguém?

Moramos todos juntos por um ano e depois nos dividimos em duas casas no mesmo bairro, algumas ruas de distância uma da outra.

O objetivo foi alcançado?

Era para ser uma temporada de três meses, já estamos há três anos e o objetivo de circular, divulgar o primeiro disco, tocar em festivais e conseguir mais projeção para banda foi alcançado. Trabalhamos com metas e agora temos outras para curto, médio e longo prazo.

Foto: Mari Chiba













Vocês estão sobrevivendo apenas da musica, ou os integrantes tem outra ocupação? Quem tem e qual é?

A profissão de músico no Brasil é tão avacalhada, muitas vezes até pelos próprios, que na pergunta já vem embutido o “sobrevivendo”. Mas é isso mesmo, já que pouca gente realmente pode dizer que vive (bem) somente de música. Outra coisa bem comum é as pessoas emendarem um “ah... músico... mas e sua profissão?” Enfim, ossos do ofício. Bem, além da música todos nós sentimos necessidade de trabalhar com outra coisa e retomar estudos até porque decidimos ficar um ano praticamente sem tocar e evidentemente a grana vinda dos cachês parou de entrar. Tenho formação em gestão cultural e me formo em radialismo em dois meses, Ed faz administração e trabalha na Fnac, Ivan dá treinamento de RH, Icaro é assistente social e faz uns bicos em um estúdio. Bernie, nosso produtor, além de fazer nossos corres se desdobra em mil funções e atua na produção de outros artistas.

Tem previsão pra banda voltar para o Pará, ou o plano é continuar em SP?

A banda fixou residência em SP mesmo por ser um lugar estratégico, facilitar nossa circulação e ser o quartel general das grandes mídias. Amamos nosso Estado, sempre voltamos aí para matar a saudade e tudo mais, mas adotamos São Paulo como nosso segundo lar.

O que ainda falta pra banda?

Há muita coisa pra fazer, estamos apenas começando. De novo.

Há diferença entre a chegada de vocês aí e a sua condição atual? Vale para o lado pessoal e profissional.

Quando decidimos que levaríamos a banda às últimas consequências e que não voltaríamos pra nossa zona de conforto foi um baque, obviamente. Escolhemos ficar longe da família , amigos, terminar relacionamentos e tudo isso nos impactou em todos os graus possíveis. Foi difícil e claro que passamos por momentos de dúvidas e total falta de esperança, mas não nos arrependemos das rupturas. Foram necessárias e todas as dificuldades pelas quais passamos nos deixou mais unidos , cascudos e amadurecidos. Profissionalmente, tivemos um super curso intensivo graças aos profissionais que fomos encontrando pelo caminho entre músicos, técnicos, jornalistas, produtores, pessoas com muita experiência e que foram generosas em dividi-las conosco. Aproveitamos ao máximo cada experiência profissional que se apresentou, tocamos bastante por aí em situações diversas e acho que ainda não há nada melhor para amadurecer do que pegar a estrada. Durante essa caminhada tentamos aprender com nossas derrapadas, as dos outros, investindo em nossa profissionalização, sendo e vendo de perto o desenrolar da atual movimentação musical brasileira. Considero importante se jogar de cabeça em uma missão, provocar e aceitar provocações e por isso ter saído de Belém, pra se jogar em um mundo que não nos garantia nada, foi a melhor coisa que poderíamos ter feito por nós. Enfim, até então “sobrevivemos” à selva de concreto e a nós mesmos nesses primeiros três anos. Digo assim: primeiro ano de euforia, segundo ano um tanto sombrio e agora estamos vivendo finalmente o novo ciclo. A banda está “solar” novamente e pronta pra fazer o circo pegar fogo e ver o palhaço chorar. :)

O ultimo show de vocês aqui foi no Se Rasgum em novembro de 2010, certo? Antes disso, quando foi a apresentação anterior? A banda tem algum show marcado pras bandas de cá, ou possivelmente os fãs devem esperar pelo próximo Se Rasgum?

Sou péssima com datas e não lembro a última vez que tocamos antes do último Se Rasgum mas voltaremos em breve pra lançar o segundo disco.

Foto: Mario Guerrero -->

Tem diferença de tocar para o público de casa, aqui no Pará, e para a galera de outros locais?

O público de rock no Brasil é sempre caloroso, mas tocar em casa é diferente. Eu conheço muitos dos rostos suados que estão na platéia e isso me dá uma sensação de intimidade incrível. Há muitos que viram a banda em seus primeiros shows, outros eram menores e não podiam entrar e estão ali pela primeira vez. No último show que fizemos aí, ano passado, no Se Rasgum, consegui perceber uma nova geração chegando em meio aquela massa de camisas pretas, amigos músicos de outras bandas, meninas arrumadas bonitas, o povo GLS, tiozinhos... Nosso público em Belém é realmente formidável.

Estão fazendo show só em SP, ou rola em outros estados?

Tocamos bastante em SP e em outros Estados por conta da divulgação do disco anterior. Tocamos em festivais, fizemos programas de TV, web, rádios e depois optamos por fazer apenas shows pontuais em eventos que considerávamos interessantes e situações impossíveis de recusar. A banda se recolheu durante quase um ano e nesse meio tempo trabalhou no novo disco que foi gravado começo do ano.

Tem alguma novidade em primeira mão para a Pro Rock? Gravação ou lançamento de cd? Estão estudando gravação de DVD? Festival? Show?

O cd novo foi gravado no começo do ano com produção do incrível Paulo Anhaia e está nesse momento sendo masterizado em algum lugar nos EUA pelo Alan Douches, que já trabalhou com Mastodon, Misfits, As I Lay Dying, Hatebreed e outras bandas pesadas. Estamos trabalhando na pré produção de dois clipes novos que serão gravados muito em breve e como eles serão feitos e por quem, será uma grande surpresa. Já estamos ensaiando o novo show e o pré-lançamento deve ser em um evento do Conexão Vivo que é o patrocinador do nosso segundo disco. Os detalhes do lançamento oficial do disco em Belém já começaram a ser delineados.

Fica livre para fazer alguma colocação.

Fico feliz em ver que a Pró Rock, associação da qual me orgulho de ter sido uma das fundadoras, esteja caminhando, crescendo e atuando como ponte entre o público e músicos, bandas e quem está envolvido com produção cultural na cidade. Adorei o blog e pra mim já figura entre as referências mais bacanas que falam sobre cultura pop e rock no Pará. Parabéns! Muito obrigada você, todos os colaboradores do blog e fica um beijo enorme cheio de saudade para todos que gostam da banda aí em Belém. Estamos voltando!


Edição e apresentação @Nicobates
Entrevista à @idijanara
Foto da Sammliz: Ed Guerreiro


NA WEB:
http://www.madamesaatan.com/


GALERIA PRO ROCK:





Madame Saatan no show "Elas" no Teatro da Estação Gasômetro - 2003
Foto: @Nicobates












Sammliz e Carlos Bremgartner (Norman Bates) no Teatro Gasômetro, no Show Invasores, 2004. Foto: Renato Reis













Sammliz e Marisa Brito (A Euterpia) no show Elas, 2003
Foto: @Nicobates

12 comentários:

  1. Aguardando ansioso o novo trabalho do Madame Saatan.. tive o privilegio de ver um ensaio da pré produção.. e o som eh poderoso..

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  2. Salve, Salve Madame Saatan, Louca pra ouvir as new songs!!! Ptzz Bela Materia!! Parabens!

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  3. Muito boa a matéria, e espero ver eles em Belém em breve. Já que não os vejo há uns 4 anos XD

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  4. Sou grande fã dessa bandaça que é o Madame Saatan e os acho um dos maiores exemplos de determinação em nosso Estado.Não basta ter talento, tem que ter o brilho nos olhos e coragem e esses caras e essa mulher maravilhosa tem pra dar e vender. Vida longa ao Madame, o maior representante do rock no Pará e em breve um dos grandes medalhões do rock nacional.

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  5. Isso é que é uma banda bonita,assim da gosto de sair de casa pra ver show rsrs Não vejo a hora de ouvir esse cd novo e de ver o showzão deles.Parabéns pela entrevista ta massa.

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  6. Madame saatan devia mudar o nome para 'superação e dedicação', sem falar no som que é du caralho,o show deles é muito foda, vc sente a musica, o rock escorrendo,é inesplicavel !! a melhor banda de rock nacional não tem pra ninguem!!!São magnificos,talentos,corajosos,simpaticos !! Parabéns Madame Saatan, tudo de bom sempre, e vcs merecem muito , isso e muito mais !!!! E espero muito vê-los em breve !

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  7. Eu sou com certeza uma das pessoas mais suspeitas aqui pra falar alguma coisa. Mas com esse show de simpatia não tem como eu não elogiar! O Madame Saatan há anos é considera por mim (e não só por mim, mas como por um monte de maluco) a melhor banda do Pará. E isso nunca irá mudar, o contrário... os anos passam e eu tenho mais certeza disso!
    Sucesso nessa nova fase e que eles não demorem tanto pra chegarem até aqui.
    Eu arrisco junho. Será????
    Abraço!

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  8. Detestável é conversa de aniversário de parente: "Tá trabalhando em quê?", "Casou?", "Ainda tá morando lá?". Ninguém mais fala de música nessa P....?

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  9. Disco de rock mais esperado do ano e a vocalista mais gata do Brasil.Salve Madame!

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  10. Doidinha, o último show de vocês aqui, antes do se rasgum, foi na Sarajevo, Mansuá do Carmo, Centro Cultural da Cidade Velha ou qualquer outro nome que aquilo lá já tenha possuído. Foi, mais ou menos, uns 20 meses antes do show da Se Rasgum.
    Beijinhos e venham logo, que eu tô morrendo de saudades ;)

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  11. Porra a thaise falou tudo + posso completar com minha frase dita no meio do sufoco no show de despedida do madame



    Madame Saatan é pra sempre




    Esperar vida de fã é esperar que chegue esse lançamento logo

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  12. O último show antes do Se Rasgum foi no Circuito Roquenrou em janeiro de 2009 no African Bar. rsrs.

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