Lembro quando comprei, em 1985, pelo correio, o Sub, segunda coletânea em vinil de punk do Brasil (a primeira foi o Grito Suburbano e ambos continham o Cólera). Fui o primeiro a ter esse disco na cidade e ele foi meu cartão de entrada no pequeno movimento punk que insurgia por esses lados.
Lembro também que décadas depois, várias pessoas tentaram trazer o trio liderado pelo vocalista/guitarrista Redson: Azul (do blog Música Paraense.Org); Del (do festival Rock Contra a Fome) e eu mesmo, que insisti por dois anos com o Marcelo Damaso para ele trazer a banda para o Festival Se Rasgum.
A espera foi longa. Para mim e para amigos que não víamos há anos em shows, que se mesclaram com velhos e novos fãs, resultando num crossover de seres diversos que se aglutinaram no Açaí Biruta no dia 19 de março.
Com o salão não tão cheio (maldita chuva), Nó Cego começa as ainda tímidas rodadas de pogo com seu punk rock ramonizado. Contando agora com André Formigosa na bateria, a banda mostrou que um bom punk rock é como um bom vinho: Quanto mais velho e quente, melhor. O veterano baixista Cláudio Darwich agita como um adolescente (mostrando o vigor que manteve de sua antiga banda Insolência Públika, aliás, a primeira punk da cidade), enquanto seu irmão, Sérgio Darwich (o Seu Madruga do punk-rock paraense), destila suas letras ácidas e irônicas, marca registrada deles. Impossível não notar do mezanino/camarim, de onde eu estava nessa hora, Sérgio Barilow, primeiro baterista do Nó Cego, e que organizou shows memoráveis na cidade nos anos 1980 como Rock 1 (no saudoso teatro Waldemar Henrique) e Clube do Rock (no extinto Lapinha), curtindo sua ex-banda.
Com a eficiente produção de palco do Azul, tudo era bem rápido e chega a vez do Licor de Xorume. Com uma grande responsabilidade nas costas, de abrir para o Cólera, a banda não decepcionou, logo botando a galera mais hardcore para pogar com seu som direto e agressivo. Levaram covers clássicos como Inocentes, Olho Seco e Psychic Possessor. Impossível ficar parado. Mostraram também sua cara própria com músicas com fortes refrãos como “Filhos de Eldorado”. O baterista Daniel tem uma pegada segura e notei que o Fabrício está com um vocal bem mais raivoso que antes, dando um puta gás extra à banda. Com dez anos de estrada, o Licor de Xorume mostrou ter uma grande empatia com seu público.
Mas tudo isso era apenas um aperitivo para o prato principal do dia, de um banquete de punk rock saudosista que apenas começara. Com os primeiros acordes do Cólera (saudando a nossa região com a intro tribal de “Qual a Violência?”), a galera botou a poeira pra subir, provando que nem só de reggae vive o Açaí Biruta, com verdadeiros clássicos sendo entoados pelo trio. Val (com sua marcação cerrada no baixo), Pierre (que fez escola com sua forte e tradicional batida punk) e Redson (que não para no palco um minuto) fizeram o público pular e cantar suas letras de cunho político-ideológico-social que marcaram uma época. A cada música, o público delirava. E foi assim com “Funcionários”, “Palpebrite”, “Medo”, “Pela Paz”, “Deixe a Terra em Paz” entre outras de todas as fases da banda, que foram ecoando pelo rio Guajará afora...
O show do Cólera é uma aula, pois mostram que com simples acordes bem executados e com uma harmonia ímpar inserida no hardcore, conseguem cativar a muitos. Vale ressaltar a presença de fãs de outros lugares, como Breves, Castanhal e até São Luís e Macapá.
Já eram umas duas da matina quando a banda desceu do palco, e depois de uma rápida ida ao camarim, saíram e bateram longos papos com os sobreviventes, provando que a humildade não se desgastou com o tempo.
Com a alma lavada e um olho roxo (de uma cabeçada que peguei), constatei a nítida satisfação nos rostos das pessoas, incluindo até os apoiadores, como o pessoal do curso Exemplo (que sempre foram fãs do Cólera), Dudú (Davu-K) e o Garapa, que nessa hora já havia largado a banquinha do Veg Casa para curtir.

sensacional dr jayme.
ResponderExcluirfoi uma noite q nunca vamos esquecer.
Nó Cego na abertura do Cólera, com grandes amigos e bandas q admiramos, coo o Delinqua e Licor!
sensacional.
com certeza, afetivamente e em todos os aspectos, foi nosso show mais importante.
foi legal rever o Barilow tb.
Dia 9 de abril tem mais Nó Cego, na orla de Icoaraci.
Ainda nao tenho os detalhes, mas qdo tiver aviso o sr e mando a divulgação.
abração ae!
e valeu.
O Jayme parecia criança no park...sua resenha revela todos os detalhes vividos neste dia. Parabéns por sua escrita e seus comentários (sempre justos ao que aconteceu, sem ocultar ou aumentar).
ResponderExcluirParabéns a prorock pela preciosa aquisição...sou suspeita, mas tá valendo...rsrsrsrsrs
Melissa
Valeu Melissa, pelos comentários sinceros, mesmo que suspeitos, hehe. e ao Cláudio também, que admiro desde antes de me meter nesse negócio feio e sujo que é o rock, rsrs. Fazer parte, mesmo que de uma forma pequena, que foi um apoio, nesse show clássico pra mim valeu muito. Tentei passar tudo o que me lembrei nessa matéria, sendo justo à todos que de uma forma contribuíram...
ResponderExcluirMeu amiguinho Jaime eu sou o Carapa e não Garapa,rsrsrsrsr!!!!
ResponderExcluirFoi muito Louco esse evento, eu por muito tempo esperava esse show em Belém, o melhor foi participar apoiando a realização desse show
histórico.
Veg Casa estar aberto à apoiar outros eventos.
hahaha. Valeu Carapa. engraçado que por muito tempo eu troquei seu apelido, mas como o conheço desde os anos 90, você ainda é o brother Frank mesmo. Valeu por estarmos juntos nesse apoio desse evento aí.
ResponderExcluirSensacional
ResponderExcluirParabéns, Jayme!!!! Porra, assisti ao vídeo do Cólera e pedi pra que da próxima vez o mapa encolha... ou o grana aumente pra eu poder ir!!!! Saudades dos Delinquentes!!!! Abraços, guerreiro!!!
ResponderExcluirDavi Kaus, Cultcha! e banda Vitrine
Grande davi KAUS. Boas recordações do povo de taguatinga (DF). Mande um abraço pra todos daí, principalmente pro everaldo ÉÉÉÉGUAAAA!!! hehehehe
ResponderExcluirPra mim o dia 19/03 fica gravado pra sempre na minha memoria, pois pude ver uma lenda viva da minha adolescencia e juventude na minha frente e eu entoando seus hinos frente a frente, que até antes só entoava nos meus vinis, desta que é uma banda q mostra que pra se ter uma longevidade no rock in roll não é ceder aos shows business da vida.
ResponderExcluir"Qual violência é pior, quero um mundo melhor" essa canção ainda ressoa vibrante nos meus ouvidos. Tive o privilégio de ouvir muitos sons durante minha vida, mas ter conhecido os hinos do Coléra ficaram para sempre gravados na minha memória afetiva. Vivíamos numa situação financeira dificílima e meu irmão do meio, ouvia essas canções como esperança para continuar a viver.
ResponderExcluirFoi definitivamente emocionante esse show pra mim. Essas canções fazem realmente sentido em nossas vidas.