21 de março de 2011

O Grito dos ex-conterrâneos

Fomos pela terceira vez em Macapá na semana retrasada. A primeira vez foi em 2005, como banda headliner, em show organizado pelo então produtor das rockadas da época Bio (que já levou muitas bandas de metal paraense para tocar lá) e a segunda em 2009 no festival Quebramar pelo Coletivo Palafita, o mesmo que nos levara agora, dessa vez no Grito Rock América do Sul. De bônus, também participaríamos do GR de Santana, que fica a meia hora de Macapá e que tem uma cena independente emergente. É de lá que nasceu, por exemplo, a Godzilla, banda que chamou a atenção do jornalista paulista Alex Antunes, que inclusive está produzindo seu CD.

Fomos recepcionados ao descermos no aeroporto por uma chuva fria que perduraria por quase o fim de semana inteiro, anunciando a chegada do fenômeno El Niño a linha do Equador. Também nos recepcionaram os irmãos Gilson e Gerson Costa (esse último da banda Babyloyds), ambos ex-Delinquentes. Um mora lá faz tempo, o outro, passa uma temporada.

Foi em Santana, passando da linha do Equador, que começou efetivamente o Grito Rock Amapá (que ainda se estenderia no outro fim de semana por Mazagão e a fronteira final do Brasil, o Oiapoque). Como devem saber, o Amapá é o único estado do Brasil cortado pela linha do Equador e segundo nosso carona de plantão, Adriano, baixista do Amaurose, um ovo fica em pé na pista exatamente em cima da tal linha. Como chovia e não tinha uma taberna pra comprarmos um ovo, resolvemos deixar a tal experiência pruma próxima oportunidade e prosseguimos a viagem para Santana, numa estrada bem melhor que qualquer uma do Pará, diga-se de passagem.


Mini Box Lunar

GRITO ROCK SANTANA

Na Praça Cívica, um grande palco se mostrava imponente com suas PA’s e seu som porrada e ao mesmo tempo nítido, enquanto pessoas iam chegando sob a garoa enjoada e insistente. A primeira banda, Velho Johnny, da própria cidade, me pareceu bem nova, mas começou a animar o público que começava a chegar com um som alternativo e pós-punk e com influências até da fase mais sombria do rock nacional dos anos 80. Descalços, com seus integrantes bem novos já empolga mais com seu blues e rock’n’roll bem eficiente e interessante, mostrando também com isso que o Palafita é bastante homogêneo dentro do gênero rock. Outro ponto positivo da organização era a troca das bandas e o controle do tempo de cada banda. Disciplinar e eficiente ao extremo.

Out Of Days

Enquanto traçávamos uma pizza com o Saddy (do Mini Box Lunar), assistíamos o Beatle George, com um peculiar som indie que funciona bem nesses festivais e tem uma cara jovial que uma cena necessita. Os quase garotos são maluquetes de plantão e já tocaram em Belém, mandando bem em sua apresentação na praça. Com uma energia vital que animou mais a noite, Gás 11 vem em seguida, com um grunge modernizado e com pitadas de hardrock, mas sem chororô, segundo me confidenciou o próprio vocalista antes de subirem ao palco. Aliás, o vocalista tem carisma e atiçou o público, já cada vez maior.

Stereovitrola

Outra banda que nasceu em Santana, mas já meio conhecida dos paraenses (inclusive já tendo tocado no Se Rasgum) é o Godzilla, que sobe ao palco com seu som caótico e letras angustiantes, com fortes influências de Sonic Youth entre outras. Já vi vários shows da banda e mandaram bem mais uma vez, com uma performance enlouquecedora da baixista Sandra, enquanto o vocalista Raoni alterna os gritos e sussurros como um bêbado no palco (se eu não conhecesse, diria que era fingimento, mas não deve ser). Senti apenas falta do baterista e grande amigo Magrão, mas o novo mandou bem.

A próxima banda, Nova Ordem, agitou a galera com seu punk rock politizado e gritado, do jeito que eu gosto e os puristas odeiam. Mostraram estarem bem entrosados e vários amigos e fãs subiram ao palco, numa suruba bonita de se ver. Com a rapidez exemplar dos shows, num piscar dos olhos chega a vez da Delinquentes, só que com uma chuva torrencial caindo justamente na nossa hora (alguns disseram que levamos a chuva do Pará, aquela velha piada...). Mas quem disse que a galera arredou o pé?

Roda de Pogo

O público paraense precisa reaprender com os de lá. Como nos velhos tempos daqui, pogos e moshs, mas nenhuma confusão. Até consegui ver do palco um casal apaixonado bem jovem se beijando no meio da roda. Tudo isso ao som da porradeira sonora da Delinquentes. Levamos um repertório um pouco menor, nos possibilitando estar vivos no dia seguinte, mas posso dizer que foi um show enérgico e as respostas foram as melhores possíveis nos comentários. Saldo positivo da primeira noite, tanto para a organização, quanto para o público e principalmente, para as bandas, ou seja, para o festival em si como um todo.


GRITO ROCK MACAPÁ
Dessa vez na praça da bandeira, o reduto rocker dos macapaenses, a chuva continuou sem dar trégua, mas assim como em Santana, o público provou que roqueiro não é mandioca (podre essa...). LBR abre a noite, mostrando também que o Palafita abre oportunidade às bandas mais novas, mesmo as que ainda precisem lapidar mais o som, o que seria o caso dessa. O legal é que eles vem de um movimento intitulado “Liberdade ao rock” que se reúne e levam suas caixas amplificadas para essa mesma praça para fazerem um som, sem permissão de nada. São os coletivos se cruzando.


Delinquentes em Macapá

Outra banda nova sobe ao palco, a Out Of days, mas dessa vez com um HC crossover visceral que lembra a extinta banda de lá Rancor HC. Com um vocal urradão e contando com o ex-baixista da SPS 12, Warlisson, a banda é promissora na nova cena hardcore macapaense. Mini Box Lunar é a próxima, deixando claro mais uma vez o ecletismo do festival, já que eles tocam uma mistureba doida que engloba o psicodelismo com viagens sessentistas (mezzo Mutantes e por aí vai...). O público também responde com a mesma intensidade. Contando agora apenas com Heluana Quintas no vocal, achei-os bem mais seguros no palco principalmente no quesito vocal. O tecladista Otto e o guitarrista Alexandre ajudam muito nisso também. Stereovitrola nem há muito o que dizer.

Ganham o público facílimo com seu indie pós-punk alternativo cantado pelo carismático skatista Patrick, sendo puxado pelo baixo pulsante de Marinho, além de um efeito de sintetizador do Matrix que dá uma cara própria ao som. Devem voltar mais uma vez à Belém ainda esse semestre. De repente, o eficiente apresentador do festival assume seu posto de vocalista do Profétika, que surpreende com seu metal pesadão e porrada cantado em português. Deu pra ver uma clara e nítida evolução no som deles desde a última vez que os vi. Além de uma grande empatia que já criaram com o público que enlouqueceu nessa hora. Pra mim a maior revelação do festival.

Deliquentes e Palafita

Depois de uma pausa para performances (que me pareceu estratégica para acalmar os ânimos da galera, alucinados que estavam pela última apresentação), era a vez dos conterrâneos paraenses do La Orquestra Invisível, que se mostraram preocupados a princípio com a reação do público, mas logo viram que não havia o que temer, pois rapidamente botaram a galera pra pular com suas belas canções entoadas pela afinada Larissa e pelo melhor vocalista, em minha opinião, de pop rock de Belém: Marcelo Kahwage. Era a 1ª vez que a banda viajava e aplausos sinceros e calorosos deixaram-nos hiper satisfeitos.

E chegara a hora derradeira do som pesado: Amatribo, Amaurose e Delinquentes. As duas primeiras apresentaram um metalcore muito bem executado, cada uma com sua particularidade de performance e som, transformando a noite macapaense num baile caótico ao som bem elaborado e técnico do metal moderno. Já era uma da manhã quando a Delinquentes fecha a noite, despejando seu HC crossover, alternando clássicos antigos com os do último CD (Indiocídio) e inéditas, além de um cover do Sepultura. Anunciados como headliner do evento, o público reagiu com energia, pogando, cantando e subindo no palco. O som estava excelente e estávamos à vontade com o público, então tudo desembocou num show perfeito.

O Coletivo Palafita está mais uma vez de parabéns pela organização exemplar, aglutinando excelentes bandas em prol de um trabalho em comum (incrível como o trabalho de equipe funciona de verdade lá). Um público estimado entre 600 pessoas (no primeiro dia) e 1.200 (no segundo) deixaram a organização satisfeita, considerando o melhor Grito Rock já produzido por eles, segundo eles mesmos no seu blog: http://www.coletivo-palafita.blogspot.com/

DAY AFTER

Casa do Buba

Passar o outro dia inteiro no hotel não parecia ser muito promissor, já que viajaríamos somente de noite, mas almoçar com o Otto, um dos maiores batalhadores da cena independente do Norte, sempre rende boas histórias. Além disso, havíamos sido previamente convidados pelo amigo Bubba (da extinta Rancor HC e que fez uma puta resenha do nosso show no Quebramar retrasado) para uma confra com amigos e fãs em seu quintal, com direito à piscina, cerveja, churrasco. E foi preciso estar lá para saber de fatos super curiosos sobre Macapá que eu e ninguém da banda sabia, como o fato de Macapá (e Mazagão) ter pertencido ao Pará até os anos 40 (ou não demos isso na história do Pará ou minhas seqüelas derreteram essa parte das minhas memórias...). Isso mesmo. Tocamos para um público de ex-conterrâneos. Talvez isso explique a afinidade entre os dois estados. E foi lá também que conheci o maior torcedor do Remo do Brasil (pai do Bubba). Pois quem mais em outro estado assinaria o canal da TV Cultura de Belém (nem sabia que se podia fazer isso) só para assistir os jogos do Leão? E ainda grava os mesmo vestindo seu uniforme oficial do time, sem contar que possui um santuário com o busto do Leãozinho na beira da piscina. Tudo isso em Macapá? Hilário. Mas acabamos mudando de assunto. Voltando: Que venha agora o Quebramar, que se depender da aprovação de alguns editais, tende à ser o mais porrada de todos.

Coluna: Caldo de Crânio 001
Por Jayme Katarro


Fotos Acervo Pessoal
Edição: @Nicobates

6 comentários:

  1. Uou ! Muito boa a resenha ! Deliquentes Mandou ver em Santana e Macapá ! Grito Rock 2011 Amapá Foi de mais, e ainda Falta Oiapoque !

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  2. sensacional, Jayme.
    CRASSE A, Nicolas.
    eu sidivirto

    abração

    Cláudio Darwich
    @Noh_Cego
    @cdarwich

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  3. Grande resenha Jayme, obrigado pelos elogios à Profetika, espero que possamos nos rever em brave, abraço a todos da banda!! Michel (vocal Profetika)

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  4. Grande Michel. Grande vocal. Grande apresentador. mandou bem lá no Grito. Viemos comentando no avião sobre as mudanças significativas no som da banda...

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  5. Valew pela força aí xará... resenha massa.. Jaime (guitarra, Profetika)

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  6. Muito boa a resenha Jayme!!!
    Parabéns pelos shows e pelo carisma!
    o site tá muito foda Nicolau!!!
    Forte abraços irmãos!
    até breve!

    Otto Ramos

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