18 de abril de 2011

Um pesadelo sonoro



Diego Fadul, dono do blog Pergunta Pro Didi e guitarrista da banda Aeroplano, entrevistou, a pedido da Pro Rock, Zé Lucas, vocalista da banda de metal A Red Nightmare, uma das boas revelações dessa nova safra paraense. Em comum, os dois tem o fato de serem pensadores e empreendedores do rock local. Sim, são empreendedores porque realizam discos, clipes, shows e isso exige esforço, organização e pensamento. Vira e mexe eles também estão tematizando os assuntos em voga tanto na música que eles ajudam a fazer quando sobre mídia, cultura... basta acompanhá-los no Twitter para vocês saberem. Essa entrevista é uma boa oportunidade de saber como pensa o vocalista de uma das bandas mais promissoras e elogiadas da nova safra paraense do metal e exercitar a comunicação crítica a respeito de nossa própria produção. Acompanhem o material produzido há alguns dias pelo MSN.


@Zehluks Ei, sumido!

@diegofadul Pois é, é o que mais falam de mim. Aproveitando que apareci, vamos fazer agora a entrevista e tal?

Rapaz, Sr. que sabe. O começo da conversa foi estranho na verdade, porque tas usando o mesmo nick que o batera da minha outra banda... e ele, de fato, sumiu. Confundi, mas vamos lá.

Zé Lucas, o que é que o A Red Nightmare toca? Que tipo de público, que tipo de pessoas se interessaria em ouvir a banda?


Bom, nós somos uma banda de metal, mas somos diferentes do que se espera de muitas bandas de metal. Não gostamos de simplesmente juntar um monte de riffs violentos aleatoriamente e botar uma letra que fala sobre estripar e matar por cima e finalizar com um solo fodão. Hehe. Não que a maioria das bandas de metal faça isso (as que eu ouço pelo menos, não o fazem), mas às vezes fico com impressão de que essa é a imagem que as pessoas criam do metal, principalmente das vertentes mais... "brutais", como é a nossa.

Nosso som é basicamente um amálgama de sonoridades clássicas e modernas dentro dos estilos mais pesados do metal. Temos tanto as levadas mais Thrash clássico quanto os breakdowns e arranjos complexos do deathcore atual. Isso se deve à pluralidade de gostos e influências dos integrantes da banda.

O Igor e o Patrick (os guitarristas), por exemplo, são os extremos de cada lado. O Igor é um cara mais conservador, criado no Thrash e no Death metal. Já o Patrick é um cara extremamente antenado com os estilos modernos, como deathcore, metalcore e post-hc. Tudo isso transparece no nosso som. Acredito que isso ocorra sem soar como uma mistureba louca. Assim espero que as pessoas percebam, pelo menos. Hehe. Mas acho que nosso som é bem acessível para todos aqueles que gostam do som pesado e de composições construídas com empenho e dedicação.

Ouvi falar que a temática das músicas e as letras são relacionadas à questão ambiental. De que forma a música que vocês fazem se relaciona com a nossa situação sócio geográfica? Qual o contexto da banda com o Pará, a Amazônia, com o norte, o Brasil...

Não todas, mas algumas de nossas músicas são sim, ligadas à essa temática. É um assunto difícil de se escapar hoje. Nós vivenciamos os problemas e as conseqüências dos abusos humanos constantemente,e como qualquer pessoa com alguma consciência, isso nos perturba e inquieta.O metal, tradicionalmente, tem o costume de encarar e apontar aquilo que preferimos ignorar e essa atitude é presente nas nossas letras de uma forma geral, que também falam sobre corrupção, problemas da vida urbana e até mesmo sobre história. Até o momento só a Earth's Revenge trata diretamente deste tema. Mas muito provavelmente algumas músicas novas recorrerão a essa temática também.

Nosso objetivo, além de fazer a música que amamos, é levar nossa mensagem sobre a situação terrível que o mundo se encontra no momento e acordar as pessoas do estado de inércia e apatia que parece ser generalizado. Por isso as letras são muito importantes para nós. Se pudermos mudar a consciência e mudar o modo de agir e pensar sobre o mundo a partir do que nossas músicas falam, eu ficarei muito satisfeito.

A nossa demo, no myspace, tem um encarte digital com letras das músicas. Recomendo a todos que leiam e reflitam sobre o que tem ali.

Olhando as fotos de vocês aqui, vejo que alguns vários já participaram de outras bandas.



O Denys (baixista) tocou anteriormente no Tenebrys. Nem todo mundo reconhece porque ele deu uma mudada radical no visual. O Patrick e o Luciano tocaram em uma outra banda antes, que chegou a participar de uma final do CCAA Fest, mas não lembro o nome no momento. Toquei em uma banda de hardcore chamada Núcleo Base, mas isso faz algum tempinho e eu mudei bastante também. Hehe.

Essas gravações no myspace de vocês estão bastante boas. Onde e com quem gravaram?

Gravamos em Icoaraci, no estúdio Chaar, com o Kleber Chaar. Foi uma preocupação nossa.

O mesmo que gravou o Tenebrys?

Sim, ele mesmo.

Rapaz, que cara bom. Engraçado a gente não ouvir falar muito dele aqui na cidade. É uma baita alternativa, então. Legal ver estúdios bons aparecendo.

Nós preferimos pagar um pouco a mais e fazer menos músicas, mas fazer com uma qualidade de gravação interessante e que nos agradasse, a fazer caseiramente ou gravar ensaio. O Kleber Chaar é um cara muito competente e muito paciente. Fez tudo como queríamos e extraímos o melhor resultado que podíamos dentro das possibilidades.

Bacana ver bandas legais que não desperdiçam talento. Costumo falar que depois de um certo ponto, qualquer retrocesso é um baita prejuízo financeiro, moral e espiritual pro artista.

Concordo contigo! Se o cara quer levar a sério o que ele faz e quer ser levado à sério pelo o que faz, é PRECISO haver um investimento consciente do seu tempo e recursos, caso contrário é dar um tiro no pé. É uma das coisas que nos move na A Red Nightmare. É evoluir ou morrer.

Falando em evoluir ou morrer, deixa te perguntar, como é esse lance do festival alemão, o wei...cker... ?

Wacken, rsrs. Seguinte: Existe uma cidade no interior da Alemanha chamada Wacken, onde todo ano rola o maior festival de heavy metal do mundo. O festival começou em 1990 e continua até hoje, sendo um dos mais conceituados do mundo da música e o maior do gênero metal.

Não, pois é, isso eu sei. Só não sabia o nome. Mas e o lance de vocês irem pra lá?

Desde 2005 o pessoal da organização do Wacken instituiu o Metal Battle, que é um concurso internacional de bandas de metal, basicamente. Este ano vai ocorrer em 30 países. A etapa nacional é organizada pela revista Roadie Crew, que desde 2001 já mandava banda brasileira pra tocar por lá. Em Belém nunca tinha rolado e a A Red Nightmare tava a fim de participar. Então fui me informar do papo e saber se a gente podia se inscrever pelo Amazonas ou pelo Acre, onde já rolava faz tempo. Nos disseram que não podia, só pelo estado de origem mesmo. E eu, cabeça dura, disse: "então a gente vai organizar essa porra aqui no Pará". Fomos nos informando, entramos em contato com o Airton Diniz, editor da Roadie Crew, e esquematizamos tudo pra rolar o evento num esquema parecido com o do Acre, em que ouvi dizer que são as próprias bandas participantes que produzem o evento(…)E, por sorte, fomos selecionados. Hehe Inclusive fechamos uma parceria com a Pro Rock, para a co-realização do evento. Então a Associação está nos dando a maior força pra rolar o evento.

Falando em parcerias, a gente sempre vê os eventos de metal dando muito certo e arriscando passadas largas aqui em Belém. Achas que é possível termos um grande festival de metal na cidade? Digo, a exemplo dos festivais da Se Rasgum, por exemplo, mas voltado mais aos sons mais pesados, ''rock pauleira''

Hehe. Cara, acho possível, mas beeem difícil. O cenário metal tem um público incrivelmente fiel, mas até o momento não é tão extenso. Mas pode ser, a exemplo de Iron Maiden com 10 mil pessoas. Não é o lado mais "porrada" do metal, mas é heavy metal! Acho que de uns tempos pra cá o metal tem conquistado seu espaço e temos tidos shows cada vez maiores, mesmo de bandas, nacionais ou estrangeiras, fora do mainstream. Acho que na mão de produtores que saibam aproveitar a oportunidade e com o planejamento adequado, podemos começar a ter shows cada vez maiores e, quem sabe, um festival de bom porte.

Mas uma coisa é certa: vai dar muito trabalho. Até porque o público local de metal é mal acostumado. Não gosta de ingresso caro e esquece às vezes que, sem prestigiar ou comparecer nos eventos do gênero, fica-se sem caixa pra trazer eventos melhores e fortalecer a cena. É complicado, mas é possível fazer o metal paraense crescer. Temos MUITAS bandas boas, algumas que nem existem mais, mas sempre foi um solo fértil para o metal, desde os anos 80, como o primeiro disco de metal brasileiro, do Stress. Hehe.

Falando em Stress, sobre o show do Iron Maiden: 1) Por que a BIS, logo a BIS…, resolveu trazer o Maiden? Não tem absolutamente nada a ver com o padrão de evento que ela faz. 2) Achas que isso pode significar que algo está começando a mudar e que grandes produtoras podem finalmente abrir os olhos para o público do Metal, do Rock em geral, em Belém?

Sim e não. Primeiro porque o Iron Maiden é, acima de tudo, um ícone. Tá acima da maioria das bandas de heavy metal e transcende o estilo à medida que é a banda de metal mais famosa do mundo. Fora o fato de que o show deles é um espetáculo à parte, ao vivo. Palco, cenografia, performance. Foi o segundo show deles que fui e não me emocionei menos do que no primeiro. Ou seja, é vantagem pra Bis trazer um show como esse, até para o status dela de produtora respeitada nacionalmente e provavelmente tem a intenção de estender essa reputação internacionalmente.

Apesar de alguns problemas e reclamações do público sobre o evento, acho que o saldo deles foi bem positivo e isso, possivelmente, pode abrir os olhos dos produtores para os estilos mais pesados da música, pois o público formado e o público potencial são grandes e consomem. E é provavelmente o mais fiel de todos. Eu só vejo vantagens em investir nessa área. Apesar da longa trilha que existe pela frente.

Sobre o Stress, vi algumas pessoas falando ''po, legal o Stress abrir, mas, com tanta banda boa e que existe, que tem trabalhado, bandas que têm produzido, por que colocar para abrir uma banda que não existe, que não tem atuado, que toca esporadicamente, que representa muito historicamente, mas que efetivamente não existe mais?" Não sou eu que to dizendo, só falaram. hehe. Que achas disso?

Cara, o Stress de fato tem uma importância histórica maior do que o mérito de produção atual deles, mas eu realmente não imagino muitas outras bandas que poderiam fazer isso no lugar deles, sendo banda local. Poucas bandas têm o nível deles e a história pesa no currículo.
Eu ia gostar de ver o Mitra ou o Anubis abrindo o show, por exemplo. Mas quem sou eu pra julgar quem merece ou não as coisas? Se os caras articularam os contatos e fizeram a coisa acontecer, parabéns pra eles. Eu gostei do show deles, apesar de não ser fã da banda.

Qual a importância da Pro Rock e de parcerias como esta para o crescimento individual e coletivo dos artistas musicais aqui em Belém?

Acho muito importante. Todas as parcerias de pessoas com o mesmo objetivo é algo que só soma e acrescenta. Fechamos essa parceria pela experiência da Pro Rock em organizar eventos e pela ajuda estrutural e organizacional que eles poderiam nos oferecer. Acho esse tipo de integração muito importante, principalmente em meios que não costumam ser tão acessíveis, como o metal. Então esse tipo de parceria não só é vantajosa como é NECESSÁRIA para o crescimento adequado e para a conscientização dos produtores e público de cenários que ainda podem crescer muito.


Escute Earth's Revenge
A Red Nightmare - Earth's Revenge by zehluks
Saiba mais sobre A red nightmare:

www.myspace.com/arednightmare


Por Diego Fadul (@Diegofadul)

4 comentários:

  1. A demo da banda pode ser baixada gratuitamente no nosso myspace. Incluso com arte da capa e encarte com as letras!

    Http://www.myspace.com/arednightmare

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  2. é isso ai, Zé! jornalismo cultural comunitário! as bandas juntas colaborando para com as ações elevarem o nivel das nossas produções e a visibilidades delas também.

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  3. Banda muito boa mesmo!! e promete!! vale apena ouvir!

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